Por meio da Emater, Governo de Goiás atua há décadas para preservar patrimônio natural do Cerrado

Resultado de trabalho de seleção e clonagem, Agência criou maior banco de germoplasma do fruto no mundo. Situado em Goiânia, local abriga inúmeras variedades que, dentre outras coisas, protegem o pequi contra desaparecimento da espécie | Imagem: Nivaldo Ferr/Emater

Foram necessárias cerca de duas décadas de trabalho para que a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) conseguisse reunir o maior banco de germoplasma de pequi no mundo, distribuídos numa única área entre mil pés do fruto. Em meio ao temor do desaparecimento da espécie, o pequizal, situado na Estação Experimental Nativas do Cerrado, em Goiânia, funciona como guardião desse patrimônio natural, que está na lista de plantas da flora brasileira ameaçadas de extinção.

Bancos de germoplasma são unidades de armazenamento de material genético de determinada espécie formadas a partir da identificação, caracterização e preservação de células germinativas vegetais ou animais. No caso da Emater, a coleção é constituída de diferentes variedades de pequi clonadas de árvores encontradas na natureza por meio de enxertia, técnica de reprodução assexuada que consiste na união dos tecidos de duas plantas.

“As plantas estão aqui protegidas para não se perderem”, explica a pesquisadora da instituição e responsável por coordenar o banco de germoplasma de pequi, Elainy Botelho. Segundo ela, utilizando exemplo prático, se um produtor rural conta com dez pequizeiros em sua roça e somente um deles apresenta qualidade produtiva, o material genético dessa árvore é colhido para que seu clone seja implantado na Estação Experimental. Caso a planta original seja comprometida por alguma adversidade, uma outra com os mesmos atributos estará resguardada pela Emater.

O trabalho, contudo, vai além dos aspectos de armazenamento e conservação. As pesquisas visam também atender a demanda dos agricultores interessados em investir no plantio de fruteiras nativas do Cerrado, com produção e disponibilização de mudas de alto padrão qualitativo. Segundo Elainy, a procura tem crescido nos últimos anos em decorrência das exigências legais para readequação ambiental das propriedades e da possibilidade de complementação de renda.

Com parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o projeto de seleção e propagação de árvores frutíferas envolve principalmente o pequi mas também outras espécies nativas, principalmente aquelas de maior apelo econômico. Os impactos foram divididos pelos pesquisadores em três eixos principais: ambiental, com a recuperação de áreas degradadas, recomposição de reserva legal e coleta e conservação de germoplasma; socioeconômico, com ampliação da base alimentar da população e geração de emprego e renda; e científico, com aumento do conhecimento a respeito das fruteiras do Cerrado.

Pesquisadora da Emater e coordenadora do banco de germoplasma de pequi, Elainy Botelho | Imagem: Fernanda Garcia | Emater

Novas tecnologias

A partir do banco de germoplasma de pequi é possível avaliar diversas variedades da planta, levando em conta características que são primordiais para agricultores familiares e coletadores que dependem do fruto para obtenção de renda. O processo exige um período prolongado, já que cada árvore de pequi demora cerca de cinco anos para produzir frutos depois do plantio.

São analisados pelos profissionais da Emater aspectos como produtividade, resistência a pragas e doenças, espessura e coloração da polpa. O objetivo principal do trabalho é disponibilizar aos produtores rurais materiais selecionados. “A fruticultura nativa é muita demandada por agricultores da região, mas na época em que iniciamos os estudos era pouco explorada pelas instituições de pesquisa. A Emater se tornou referência e com posição de destaque nessa área”, pontua Elainy.

Além da avaliação dos pequizeiros, foram executados na Estação Experimental Nativas do Cerrado ensaios para examinar quebra de dormência de sementes de pequi e araticum, posição de semeadura de pequi, conservação de sementes de cagaita, substrato e adubação adequada para mudas em tubetes e em sacos plásticos e doses corretas de micronutrientes para plantas nativas do bioma. 

Pequi sem espinhos

Desenvolvida pelo Governo de Goiás, por meio da Emater, a pesquisa com pequi sem espinhos também é uma das explorações realizadas no banco. A história da variedade se iniciou há quase 15 anos, quando um agricultor de Cocalinho, município no Mato Grosso que faz divisa com Goiás, notou que um pé de sua plantação gerava aquele tipo de fruto. Como ele não conseguiu enraizá-lo para produzir mudas, o pequeno produtor procurou auxílio da Emater, que passou a fazer estudos de progênese para viabilizar a multiplicação dos pequis diferenciados.

O mesmo procedimento de seleção e clonagem foi adotado para produção das mudas. A especialista Elainy Botelho, que também coordena a pesquisa, esclarece que as sementes de um pequi sem espinhos não necessariamente irão dar origem a plantas com essa mesma peculiaridade, algo possível apenas com a reprodução por enxertia. “As sementes apresentam variabilidade genética. No caso do pequi, de fecundação cruzada, sua flor recebe o pólen de outra planta”, detalha.

O experimento já se encontra em fase de conclusão, em que irá passar pelos trâmites legais necessários para a liberação da comercialização. De acordo com o presidente da Emater, essa é uma etapa delicada, uma vez que envolve o estudo de viabilidade econômica a ser apresentado aos pequenos produtores goianos. “Depois de tantos anos de dedicação e empenho por parte da equipe científica, agora precisamos nos empenhar em fazer essa nova tecnologia chegar às mãos de quem precisa, que é o nosso agricultor familiar”, enfatiza.


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