Frutinha de cor azulada e nativa de regiões frias, o mirtilo está sendo cultivado com sucesso no Cerrado, bioma caracterizado pelo clima predominantemente tropical sazonal. Em Goiás, já tem quem investiu na fruta e quem tem interesse em produzi-la, o que sinaliza a abertura de novos mercados para o setor agropecuário, inclusive para a agricultura familiar. Para quem deseja inovar e introduzir a cultura na propriedade, buscar a orientação da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) é o primeiro passo.
“A Emater pode auxiliar o produtor na parte técnica, implantando e acompanhando a produção, em questões como irrigação, espaçamento, escolha de melhores mudas, possíveis pragas”, pontua o engenheiro agrônomo da instituição, Magno Victor Cardoso. Segundo ele, a etapa de comercialização também é um momento crucial, no qual a Emater oferece assessoria especializada, já que geralmente é um estágio em que o pequeno produtor enfrenta maiores dificuldades.
Atenta aos serviços de apoio disponíveis aos empreendedores rurais do Estado, a empresária goiana Lilian Alves Gomes, que pretende arrendar uma área em Pirenópolis ou Bela Vista de Goiás, procurou um escritório local da Emater para entender as possibilidades produtivas e adequadas para seu projeto. O interesse em cultivar mirtilo surgiu por conta de seu fascínio pela fruta, que tem conquistado consumidores em todo o mundo em decorrência do sabor agridoce e dos ricos benefícios à saúde.
Profissionais da Emater, Magno e o também engenheiro agrônomo Álvaro Gonçalo, colocaram Lilian em contato com um produtor de Anápolis, Masayuki Honjo, que está se tornando referência em cultivo de mirtilo em Goiás. A cultura foi implantada na pequena propriedade depois de o agricultor ser influenciado pelo amigo e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Osvaldo Kyioshi Yamanishi, responsável pelo desenvolvimento de uma técnica de produção em sacos plásticos ao invés do contato direto com o solo.
Durante a visita, Masayuki Honjo explicou aos especialistas da Emater e à produtora interessada que a variedade utilizada é primordial para o sucesso do plantio. A fazenda conta com mais de dois mil pés de mirtilo biloxi, qualidade desenvolvida pela Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) bem adaptada para climas quentes, autofértil, forte e resistente a pragas.
“A Emater foi importante nesse encontro porque levantou questões técnicas que a gente não pensaria em perguntar”, relata Lilian. Para ela, os esclarecimentos foram necessários para evitar que possíveis erros futuros sejam cometidos. A empresária revela que o próximo passo é calcular os custos para avaliar a viabilidade de seu projeto, visto que o mirtilo é uma cultura que demanda valores relativamente altos de investimento.
Cultura em expansão
Embora não haja dados oficiais no Brasil, estima-se que a produção de mirtilo no País compreenda uma área plantada de 250 hectares, com plantações pequenas, menores que dois hectares. O fruto é cultivado no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e mais recentemente em Goiás.
Mundialmente, a produção tem crescido a cada ano e alcançou em 2019 a marca de 823.328 toneladas, conforme levantamento da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU). Cerca de uma década antes, em 2008, o valor era de 331.347 toneladas.
De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater, Álvaro Gonçalo, o mirtilo ainda é pouco difundido entre agricultores brasileiros, já que está concentrado em áreas de clima frio e seu cultivo exige capital tecnológico. Apesar disso, é uma fruta nobre com alto valor agregado, podendo chegar a custar R$ 100 o quilo. “Mesmo com público restrito, o número de consumidores vem crescendo, é um mercado interessante para ser desbravado pela agricultura familiar”, aponta.
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