Com apoio da Emater, Feira Agroecológica de Anápolis estimula produção e consumo de alimentos orgânicos no município

A FeAgro completou em 2020 cinco anos de existência, reunindo cerca de 250 consumidores todas as terças-feiras, no Parque Ipiranga

Ao fim de tarde de todas as terças-feiras, entre as 16h e 19h, moradores de Anápolis, município da Região Metropolitana de Goiânia, têm a sua disposição uma imensa variedade de produtos orgânicos, entre hortaliças e verduras cultivadas por agricultores familiares da região. A Feira Agroecológica (FeAgro), que acontece no Parque Ipiranga, completou no último mês de março cinco anos de existência, levando alimentação saudável para o prato do anapolino e tornando-se um importante ponto de encontro para quem busca formas de consumo mais sustentáveis.

A iniciativa surgiu a partir do nascimento da Associação dos Produtores Agroecológicos de Anápolis e Região (Aproar), fundada com o apoio do Governo de Goiás, por meio da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), em 2011, visando fortalecer a agroecologia na produção rural da cidade. O momento, segundo o engenheiro agrônomo da Emater e diretor técnico da Aproar, Álvaro Gonçalo, era de muito entusiasmo entre os produtores. Começava a despontar na época diversos projetos relacionados a agricultura orgânica, um deles coordenado por Gonçalo, que criou uma unidade agroecológica em uma área abandonada da Escola Agrícola de Anápolis, onde acontecia inúmeras ações, de cultivo de alimentos orgânicos para serem doados a palestras e cursos.

Com o desenvolvimento dessas atividades, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) apresentou o projeto Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais), doando para a cidade de Anápolis 30 kits de horta-mandala, com todos os equipamentos necessários para a instalação de hortas em formato circular, ferramentas para irrigação por gotejamento, caixas d’água e insumos.

“Foi o impulso que precisávamos para, com apoio total da Emater, Prefeitura e Sebrae, reorganizássemos o grupo e a associação. Com novos treinamentos, incentivo e muito trabalho, iniciamos a Feira Agroecológica de Anápolis com sucesso”, relatou Álvaro.

A Aproar conta com 20 associados, dos quais 12 participam regularmente da feira. A comercialização é feita diretamente entre os produtores e os consumidores – estes últimos somam cerca de 250 por dia de feira. De acordo com a presidente da associação, Leiliane Honorato da Silva, a FeAgro é importante para estimular o consumo e a produção de alimentos agroecológicos. “Temos uma grande variedade de produtos cultivados através de processos naturais e que fazem diferença na dieta das pessoas, especialmente das crianças, gestantes, idosos, pessoas com doenças autoimunes e aquelas em tratamento contra o câncer”, explicou.

Oriunda de uma linhagem familiar de pequenos agricultores, Leiliane salientou ainda que ações como essa valorizam o trabalho no campo, incentivando o processo de sucessão familiar, questão muito cara aos debates sobre a atividade rural. A estruturação de uma empresa familiar é fundamental para a manutenção do patrimônio das pequenas propriedades e incitar as gerações posteriores a darem continuidade aos negócios da família, o que garante, por exemplo, que produtos como os que são disponibilizados na feira continuem a existir. No caso da presidente da Aproar, seu avô trabalhava na área de agricultura e hoje os filhos dela estão ao seu lado no campo.

Renda e saúde

Muitos dos agricultores têm suas rendas retiradas exclusivamente da FeAgro, como é o caso de Paulo Aparecido de Oliveira, que cultiva verduras e hortaliças e participa da feira desde seu início. Ele conta que entre os anos de 2005 e 2006, perdeu toda a sua lavoura de tomate, desistindo então da produção rural. Cerca de cinco anos depois, um amigo o convidou para fazer parte da Aproar e, apesar de seu desânimo, ele topou conhecer a organização. “Eu não acreditava muito nessa história de produtos orgânicos, mas depois que ganhei o kit do Sebrae e fizemos a primeira horta, passei a confiar que daria certo. Nós produzimos e vendemos muito bem”, disse.

Além de sobreviver por meio da feira, Paulo afirma que está feliz em levar saúde para as pessoas por meio de seus produtos. Ele também destacou a importância de adotar uma perspectiva ecológica na agricultura, respeitando e protegendo os ecossistemas. A agroecologia parte justamente desse princípio, desenvolvendo estudos sobre tecnologias para sistemas orgânicos de produção ou em transição agroecológica, que forneçam benefícios ambientais, sociais e econômicos. 

A presidente da Aproar, Leiliane, ressaltou essa característica. “A feira não só gera renda para o pequeno produtor, como também promove a conscientização de que nós podemos alimentar as pessoas de forma natural. Nós fazemos isso com tamanha excelência, que quem consome nossos produtos não querem mais trocar por outros”, afirmou. “Antes, havia o mito de que os alimentos orgânicos eram feios e pequenos, mas nós conseguimos mudar essa mentalidade”, acrescentou.

O que são alimentos orgânicos?

Para ser considerado orgânico, o alimento deve ser cultivado em ambiente que respeite as diretrizes agroecológicas, contemplando o manejo responsável do solo, água e demais recursos naturais. Nesse tipo de sistema, não são utilizados fertilizantes ou outros materiais sintéticos, ou seja, adotam-se métodos naturais de produção, como a adubação verde. No entanto, não diz respeito a apenas técnicas de cultivo, deve-se levar em conta também aspectos econômicos, sociais e culturais da comunidade. 

No Brasil, esses alimentos precisam seguir as normas legais em vigor desde 2011. O consumidor pode reconhecer o produto orgânico por meio do selo brasileiro, no caso de compras em lojas e supermercados, ou pela declaração de cadastro do produtor orgânico familiar. O agricultor precisa vender seus produtos diretamente, para que o consumidor possa estabelecer uma relação de confiança, prática exercida na FeAgro de Anápolis.

Segundo a nutricionista Karla Escoda, o valor nutritivo dos orgânicos é mais uma qualidade desse tipo de alimento. “Temos um solo muito mais rico em compostos bioativos, vitaminas e minerais. O vegetal, fruta, grão e semente têm um valor nutricional agregado muito maior e biodisponível. Em uma alimentação orgânica, não temos o que chamamos na nutrição funcional de xenobióticos, que são toxinas que nosso corpo não reconhece”, explicou. A especialista atenta ainda para o caráter biodinâmico da produção orgânica: “a gente pensa não só no nosso alimento, mas também na terra, no solo, no planeta”.

Coronavírus

Em decorrência da pandemia de coronavírus, vírus responsável por causar a Covid-19, doença respiratório que tem acometido milhares de pessoas em todo o mundo, a Feira Agroecológica de Anápolis havia sido temporariamente suspensa. Entretanto, por meio do Decreto nº 9.645, de 3 de abril de 2020, com alterações em relação ao Decreto 9.633, de 13 de março de 2020, o governador Ronaldo Caiado autorizou o retorno das feiras de hortifrutigranjeiros no estado. Segundo o técnico da Emater, Álvaro Gonçalo, a FeAgro voltará a funcionar normalmente na próxima semana, se adequando às exigências e orientações da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

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