Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão. Águas que banham aldeias e matam a sede da população
Guilherme Arantes
Ao analisarmos imagens aéreas da Terra é simples notar a importância da água para o planeta. Cerca de 70% de nossa superfície é coberta por ela. Dito isso, uma pergunta é inevitável: com todo esse volume, como é possível tanta escassez e de onde vem o crescente alerta, a cada dia mais alarmante, de que a água está acabando?
A reposta é simples: apesar da abundância, apenas 3% do volume de água de nosso planeta é próprio para consumo humano. Logo, para garantir a preservação da vida, faz-se imprescindível a preservação de nossas águas, desde as nascentes até o momento em que saem pelas torneiras de nossas casa ou infiltram no lençol freático em forma de chuva.
Com o objetivo de incentivar o produtor rural a investir em ações de preservação, a entidade responsável pela gestão dos recursos hídricos brasileiros, a Agência Nacional das Águas (ANA), criou o programa Produtor de Água. As ações são realizadas por meio de parcerias entre instituições que trabalham diretamente na gestão e preservação do recurso. Em Goiás, a responsável é a Emater. A proposta do programa, presente ainda nos estados de São Paulo e Minas Gerais, é trabalhar a revitalização de bacias hidrográficas, que são estrategicamente selecionadas em regiões pré-determinadas.
Cerca de 700 produtores são diretamente atingidos pela iniciativa no estado, onde a implantação do projeto se deu na Bacia do Ribeirão João Leite, que abarca os sete municípios de Goiânia, Anápolis, Nerópolis, Ouro Verde de Goiás, Goianápolis, Campo Limpo de Goiás e Teresópolis de Goiás.
As ações na bacia hidrográfica, que beneficia parte da Região Metropolitana de Goiânia, alcançando dois milhões de habitantes, são realizadas pela Emater em parceria com Prefeituras, Governo do Estado, Saneago, Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e Universidade Federal de Goiás (UFG).
Engenheiro agrônomo da Agência, Pedro Américo Carneiro, responsável pela implantação do Programa no município de Anápolis e região, considera que a iniciativa tem como foco principal a recuperação das condições ambientais de nascentes, áreas de preservação permanente (APPs) e conservação do solo. Somente em Ouro Verde de Goiás e Nerópolis, 32 produtores aderiram ao projeto. Deste total, 24 já assinaram o contrato, sendo que três deles já receberam o pagamento pelos serviços ambientais.
Sustentabilidade
A produtora rural de Ouro Verde de Goiás Márcia Helena do Nascimento foi a primeira a aderir ao Programa no município. Ela acredita que o projeto ajudou a descobrir e conhecer lugares onde era necessário realizar ações de preservação e cuidado.
“É importante preservar e cuidar das nascentes, pensando não só no agora, mas também no futuro. Se a gente não começar a se mobilizar, futuramente, nossos netos não terão acesso à quantidade de água que temos hoje”, defende Márcia, que já recebeu a primeira parcela do pagamento dos serviços ambientais e pretende investir o recurso na manutenção e melhoria das ações planejadas.
Eustáquio Garcia também aderiu ao projeto em Ouro Verde de Goiás. O produtor relata que a preocupação com a questão ambiental veio da própria natureza a partir do momento em que começou a sentir na propriedade e na pele a questão da seca. “A água não corria mais no Córrego do Sapato Arcado e não existe ser vivente sem água. A sensação que temos é de que o projeto está servindo para muita gente”, coloca.
Benefícios ambientais
O Produtor de Água prevê a realização de diversas atividades de preservação de mananciais. Dentre elas se destaca o cercamento de nascentes que proporciona, de acordo com o engenheiro agrônomo da Emater, Álvaro Gonçalo, um dos mais importantes resultados do programa. “Ao cercar os afluentes, as águas não são mais degradas pelo pisoteio do gado, preservando a integridade das nascentes”, avalia.
Além de proteger as nascentes, a cerca também delimita as Áreas de Preservação Permanente (APP) que são, conforme a legislação vigente, um espaço, coberto ou não por vegetação nativa, que tem como função preservar recursos hídricos, biodiversidade, solo, além de proporcionar o bem-estar para os seres vivos. Neste sentido, Gonçalo acredita que ao cercar as nascentes a vegetação nativa pode ser recuperada, seja por meio do plantio de novas espécies, ou também até naturalmente.
O engenheiro agrônomo da Emater, Pedro Américo Carneiro, sustenta ainda que o Programa pode estimular o desenvolvimento de tecnologias para o setor agropecuário. De acordo com ele, o Produtor de Água promove o uso de tecnologias para recuperação de pastagem, calagem e controle de cupins e ervas daninhas, contribuindo com capacidade maior de suporte do solo por área e o aumento do rebanho em determinada área de pasto.
PARA O PRODUTOR – Como aderir ao Produtor de Águas?
A adesão ao programa Produtor de Água é voluntária e pode ser solicitada em Unidades Locais da Emater localizadas nos municípios da região da Bacia do João Leite. Após a adesão, é desenvolvido o Projeto Individual da Propriedade (PIP) que mapeia as ações de proteção ambiental que visem a preservação das águas de mananciais.
Responsáveis pelo planejamento do PIP, técnicos da Emater acompanham as ações, que vão desde a formação de curvas de nível à construção de microbacias para captação de água, entre outras atividades. Além disso, as ações do Produtor de Água são integradas ao plano de gerencial e de assistência técnica continuada promovida pela Agência em cada propriedade.
Após a execução das ações previstas no PIP, o produtor passa a receber da ANA o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). O benefício consiste na compensação de recursos financeiros anuais durante cinco anos para os produtores que aderirem ao programa. O montante é calculado de acordo com a área e as ações realizadas na propriedade, ou seja, quanto mais ações o produtor realizar, maior será a quantia em reais que irá receber.
Gerência de Comunicação para Inovação – Emater
Fotos: Nivaldo Ferr
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